15.12.06

O Olho de Demiurgo

O seguinte artigo é uma síntese das últimas descobertas feitas pelo Centro de Pesquisas sobre o Olho de Demiurgo na Bancada de Bronze e das concepções gerais que definem nossas atividades. Em nome de todo o grupo, é com muito orgulho que tornamos públicos nossos últimos avanços em pesquisa.


O Olho de Demiurgo
A real origem da imensa formação circular que cobre o céu de Veniza data de 310 anos atrás, quando Demiurgo foi banido de Geniov. Devido a coincidência temporal, a crença vigente é de que o Olho constitui um portal para um plano ou semi-plano onde Demiurgo estaria aprisionado. Depois disso, diversas criaturas e objetos começaram a cair de lá e povoar Veniza. Algumas são amistosas e até úteis para a civilização, enquanto outras são perigosas e, se não forem adequadamente controladas pela Stranda, podem ameaçar a segurança de toda Geniov.


Se de fato o Olho é um portal para o lugar onde Demiurgo está, é razoável entender (e quase todos entendem assim) que as criaturas que de lá saem são mandadas por ele. O Centro de Pesquisas deu um passo adiante na interpretação, e temos indícios de que Demiurgo está adormecido em sua prisão, e o que chega até nós são produtos dos seus sonhos.


Sonhos
O conhecimento que temos sobre a origem de Demiurgo é minúsculo. Dizem os mais antigos que ele própria alegava ser o criador de todos os mundos. Ainda que seja uma verdade áspera demais para se digerir, aqueles com um pouco mais de fé e simpatia não encontram muita resistência fatual para aceitar isso dadas as inúmeras demonstrações de seu poder.


O que se conhece melhor, por outro lado, é a vida de Demiurgo em Geniov. Sua chegada marcou o ano zero, quando a superfície do nosso planeta não era habitada, e as únicas formas de vida estavam dentro das cavernas orgânicas internas de Geniov que chamam de Útero. Demiurgo trouxe para fora do Útero as criaturas de lá, e para dentro de Geniov seres de outros planos e mundos. Veniza foi criada e cresceu com a supervisão de Demiurgo, que amava muito seu mundo, mas nutria um interesse e paixão especial pelos nativos de Geniov, seres que para a maioria de nós parecem aberrações (tanto física quando psicologicamente).


O próprio Demiurgo tem uma aparência bastante próxima do que poderíamos chamar de comum, mas seu contato com Geniov deixou marcas. Hoje seus sonhos são tão disformes quanto as criaturas que conhecemos através deles. O interesse do nosso Centro de Pesquisas é não só conhecer com detalhes a anatomia, fisiologia, psicologia e habilidades dos filhos de Demiurgo, mas entender o que se passa na consciência desta entidade através de interpretações de seus sonhos.


Analisando relações entre eventos mais ou menos importantes de Geniov e a atividade do Olho de Demiurgo, estamos em posição de afirmar com segurança que Demiurgo tem consciência (pelo menos parcial) do que está acontecendo em seu mundo, e reage criando belas criaturas quando está satisfeito com nosso progresso, ou criando monstros abomináveis quando está descontente com alguma coisa.


Apigema
Apigema é como batizamos a criatura colossal que tornou-se conhecida por ter sido a primeira a conseguir destruir temporariamente nossa egrégora Stranda. Ela saiu do Olho de Demiurgo há aproximadamente dois meses, e com facilidade perturbadora destruiu o sistema de proteção de Veniza contra ataques do Olho, custando a vida não só de Stranda mas de muitos outros soldados. Felizmente ela não concentrou mais ataques em Veniza, e afastou-se rapidamente para atacar territórios distantes.


De acordo com relatos, Apigema seguiu em rota direta até o recém fundado povoado de Illidan, governado por um círculo de conjuradores arcanos composto por Diabolique, Lucien, Ilda Nina e Nefer-Nefer. Os quatro são detentores de fama interplanar, e têm origens bastante distintas, mas uniram-se no intuito de criar uma cidade em Geniov voltada para a evolução do poder. Incrivelmente conseguiram resistir ao ataque de Apigema, e um deles, Lucien, subiu na criatura e levou ela de volta até o Olho de Demiurgo.


Não há relatos desta criatura saindo novamente do Olho, mas rumores de avistamento posterior de Apigema estavam tornando-se freqüentes, até que finalmente fomos capazes de confirmar que ela ainda está em Geniov.


Apigema tem a forma de um gigantesco disco (cerca de 60m) coberto por olhos do tamanho de um humanóide médio cada. Da sua parte inferior saem três tentáculos imensos, e algumas formações menores com formas semelhantes a seios femininos. Apigema é extremamente resistente a ataques mágicos e físicos comuns. O contato visual com um de seus olhos pode ter efeitos diversos, entre eles a transmutação da vítima ou sua morte definitiva. Apesar disso, sua principal forma de ataque é física, usando seus tentáculos, que são capazes de destruir grandes construções ou poderosos oponentes em poucos segundos.


Ainda não se sabe como os governantes de Illidan conseguiram se livrar temporariamente da criatura, mas foi confirmado que seu surgimento coincidiu exatamente com o momento da chegada dos quatro conjuradores. Não é a função do Centro de Pesquisas formar juízo ou sugestões arriscadas, mas tudo indica que Apigema é a expressão de descontentamento de Demiurgo a respeito da chegada dos quatro, ou talvez da criação de Illidan. Se isso de fato for verdadeiro, Illidan deve sofrer um outro ataque em breve.


Tígios e o Método Interpretativo
As evidências a favor da idéia de que o produto dos sonhos de Demiurgo está pelo menos em parte relacionado ao que acontece em Geniov são muitas. Esta idéia, isoladamente no entanto, é vazia: se apenas analisamos o que sai do Olho de Demiurgo para ter uma noção do seu estado de humor, não estamos em posição de fazer muita coisa.


Nós do Centro de Pesquisas, no entanto, demos vários passos além. Partindo de inúmeras observações do Olho, e com a contribuição de conhecimentos construídos a partir de fenômenos semelhantes de outras partes do Multiverso, desenvolvemos o que chamamos de Método Interpretativo. Aquele interessado em conhecer seus detalhes deverá visitar o Centro, mas para a ocasião, basta dizer que, através do estudo meticuloso de todos os acontecimentos políticos, geográficos e sociais de Geniov, somos capazes de prever em nível cada vez mais preciso a atividade do Olho. Gostaríamos de apresentar nossa última descoberta.


Todos aqueles que conhecem o mínimo da história de Geniov sabem que a maior preocupação de Demiurgo sempre foi o crescimento e a prosperidade de nosso planeta. Em poucos anos ele transformou a superfície estéril e deserta do planeta cúbico em uma das coisas mais belas e fantásticas já vistas pelos seres inteligentes: Veniza.


A miscigenação cultural resultante da chegada de pessoas de tantos lugares tão diferentes não incomodava Demiurgo. Ele gostava de ver sua criação tomar vida própria e rumos inesperados.
Ainda que no tempo de Demiurgo não existisse povoamento em Geniov fora de Veniza, não temos motivos para acreditar que ele seria contra esta conseqüência inevitável do crescimento. Depois do seu banimento, tanto Veniza quanto os povos independentes cresceram muito, não só em números como em civilidade.


Nos últimos meses, Geniov tem passado por um crescimento acelerado: a fundação de Illidan, o início da construção de Livéria, e o anúncio dos bionanos de que a cidade passará por um crescimento de 100% no próximo ano prometem mudar drasticamente o panorama de Geniov. Os respectivos anúncios foram feitos por Diabolique, a Filha da Serpente; Marco, rei de Bion; e a criatura anônima que anunciou Livéria. A edição passada da Gazeta mostrou o primeiro, os outros dois estão no prelo.


Todos aqueles interessados em estudar os mistérios de Geniov se depararam com números. Os maiores segredos do nosso mundo são numéricos e geométricos. O número em questão é 3: três povos em crescimento. Três povos localizados de tal forma que se pode traçar uma linha quase reta entre eles no mapa: Bion no noroeste, Livéria no centro, próximo a Veniza, e Illidan no sudeste.


São fenômenos deveras exclamantes para passarem desapercebidos pelos sonhos de Demiurgo; não passaram. Há poucos dias, saíram do Olho pequenas criaturas que chamamos de Tígios.
Os Tígios são seres de forma piramidal-quadrada que medem aproximadamente 40cm. Sua pele parece uma espécie de argila escamosa, e têm um olho na face quadrada. De uma das outras faces sai um pequeno pseudópode que parece ser usado para estabelecer contato com o ambiente. São criaturas aparentemente pouco inteligentes mas sensíveis ao meio ao seu redor. Quando entram em contato com uma superfície, os Tígios mudam de forma e consistência, e começam a reproduzir. Sua reprodução é assustadoramente rápida, mas seus descendentes morrem depois de poucos minutos de se reproduzirem também. O mais interessante é o que acontece no final: depois de se replicarem e morrerem em aglomerados, os corpos ficam muito semelhantes à superfície inicial de contato, de forma que são capazes de fazer grandes construções em muito pouco tempo. No final da construção, permanece vivo apenas o Tígio original.


O processo não é totalmente mecânico pelos seguintes aspectos: não é qualquer superfície que estimula um Tígio a se reproduzir; sem o encorajamento de uma outra criatura, mesmo superfícies mais estimuladoras (como madeira ou pedra) não causarão a reprodução; a construção final não replica de forma idêntica a superfície inicial e nem a si mesmo, podendo ter irregularidades importantes. Em última instância, os Tígios parecem ser capazes de captar mentalmente a vontade de seu treinador e trabalhar de acordo, podendo mesmo construir estruturas mais elaboradas se treinados corretamente.


Por outro lado, algumas características do processo são bastante regulares: os Tígios sempre se reproduzem de três em três, e cada replicação dura exatamente 11 minutos e 15 segundos. Os blocos de construção, mesmo que nem sempre perfeitamente distinguíveis, são feitos de dois Tígios cada um compondo a metade de um cubo de 40x40x40cm aproximadamente. A sociedade poligonal está nos auxiliando para calcular exatamente a fórmula de progressão pela qual eles se reproduzem.


Originalmente havia cerca de 30 Tígios. Como sempre acontece, alguns morreram na queda, e outros foram atacados pelas defesas de Stranda, sobrando 18. Seis deles morreram nos nosso laboratórios. No momento temos doze Tígios em fase de estudo. Assim que terminarmos, provavelmente iremos disponibilizar alguns deles para leilão, enquanto outros serão aproveitados para o crescimento de Veniza.


Finalizações
Como é de costume na Gazeta, quero terminar este artigo com convites. O primeiro deles é para os interessados em visitar o Centro, integrar nossa equipe de pesquisas e conhecer o Método Interpretativo. O método é bastante complexo, e precisamos de pessoas brilhantes para enriquecê-lo.


Além disso, temos sofrido ataques constantes tanto nas defesas internas quanto no exterior de nossa sede. Ainda não fomos capazes de identificar os agressores, mas aparentemente há seres abissais envolvidos. Se nossas propriedades forem danificadas, muito de nosso conhecimento poderá ser perdido para sempre. Letho nos disponibilizou reforçamento para a guarda local, mas ainda precisamos de voluntários dispostos a ajudar na proteção do Centro, pelo menos enquanto os ataques continuarem.


Junoë, Diretor do Departamento de Interpretação do Centro de Pesquisas sobre o Olho de Demiurgo