7.10.06

Introdução a Geniov

Por Halven Q., Tetrateurgo da Sociedade Poligonal de Geniov

A equipe da Gazeta Neocívica de Geniov me convidou para escrever esta edição especial tendo em vista o número crescente de visitantes e imigrantes de Geniov que passam por maus bocados até se adaptarem às peculiaridades do nosso mundo. Este guia foi feito para estas pessoas. Minha exploração dos temas abaixo não pretende ser exaustiva; a descoberta do planeta em forma de cubo é recente, e as pesquisas científicas sobre o funcionamento de suas propriedades mágicas próprias mais ainda. Aquele que pretende se aprofundar nos mistérios de Geniov deve comprar as outras edições da Gazeta ou buscar informações na Sociedade Poligonal.

História

A idade exata de Geniov é uma incógnita. Até onde sabemos, por muito tempo o planeta desconheceu criaturas inteligentes e qualquer coisa que possa ser chamado de civilização.
De acordo com os primeiros relatos históricos datados de 391 anos atrás (agora considerado ano Zero em nosso calendário), a mudança começou com a chegada do deus Demiurgo. Demiurgo se proclama criador de todas as coisas do nosso Multiverso, e ainda que poucas pessoas de fato acreditem nisso (provavelmente a única exceção sendo os membros do Tempo de Demiurgo), as mudanças que ele causou em Geniov são dignas de nota.


Inicialmente ele trouxe ao planeta algumas dúzias de humanóides, e abriu as primeiras passagens para o Útero. A denominação da parte interna do planeta de "Útero" é para uns uma metáfora, mas para aqueles que acreditam que Geniov é mesmo uma criatura viva e que os habitantes do Útero são suas crias, o nome é apenas uma designação anatômica mais ou menos precisa. Antes da chegada de Demiurgo, estas crias eram confinadas ao interior do planeta, e desconheciam a superfície. Depois que as passagens foram abertas, os habitantes das camadas mais superficiais do Útero saíram de lá, e adquiriram algum grau de inteligência na interação com os humanos. A natureza dos habitantes das camadas mais profundas é quase completamente desconhecida, e a própria existência destas criaturas é uma das várias histórias que por enquanto devem se manter com status de lenda.

Com o tempo, mas principalmente com a ajuda de Demiurgo, mais criaturas saíram do Útero, e outras pessoas vieram de outros lugares do Multiverso. Estes primeiros habitantes fundaram a cidade de Veniza nas bordas de uma gigantesca colina em forma de cilindro no centro do planeta.
Com a supervisão e os incríveis poderes de Demiurgo, a cidade floresceu rapidamente em tecnologia, magia, e organização social. Ainda que algumas criaturas mais longevas que habitam Veniza hoje alegam ter vivido durante este período, o funcionamento de Veniza nesta época também deve ser considerado lenda. Mas a lenda estando correta, Veniza chegou muito próximo daquilo que poderíamos considerar um paraíso.


Os pesquisadores arcanos rapidamente começaram a perceber padrões mágicos únicos no planeta. Descobriram a técnica da Egrégora – a criação de deuses artificiais a partir da força de vontade e da oração das pessoas. A criação de Egrégoras, hoje, é provavelmente a propriedade de Geniov que atrai o maior número de exploradores de outros cantos. A técnica em si é bastante simples, e qualquer conjurador menor é capaz de executá-la. Menos simples é ser capaz de manter e fortalecer uma Egrégora, uma vez que isso exige que um número muito grande de pessoas ore por ela. Mais difícil ainda é entender por que as Egrégoras só existem em Geniov. Mais uma vez, as hipóteses são muitas. Há quem diga que elas drenam a energia de Demiurgo, ou do próprio planeta-vivo. Outros afirmam que elas seguem o processo natural de criação de deuses verdadeiros. Estas hipóteses também devem ser consideradas como lendas.

A descoberta das Egrégoras atraiu atenção indesejada. Um homem misterioso chamado Letho Black chegou a Veniza encantando as pessoas com a idéia da criação de uma Superegrégora, com poderes que se equiparariam ao de um deus maior. A cidade inchou ainda mais rapidamente com gente interessada e intrigada pela idéia. Ao mesmo tempo começou a sofrer ataques de diabos, o que fez com que a urgência da criação da Superegrégora aumentasse.

Em poucos anos, Veniza se tornou um grande culto a Stranda, a Egrégora de proteção de Veniza. Os venizianos ficaram obcecados com medo dos ataques dos diabos. Black se tornou o líder supremo de Veniza, pois demonstrou oposição ferrenha aos ataques, e afinal, era o criador e controlador de Stranda. No auge de seu poder, em uma manobra muito bem arquitetada, usou os poderes de Stranda para banir Demiurgo de Geniov.

Como isso aconteceu, pouco se sabe. O próprio Letho nunca assumiu abertamente ter banido Demiurgo, mas os fatos que decorreram disso deixam poucas dúvidas sobre o acontecido. Um imenso buraco-portal se abriu sobre Veniza. De lá caiu primeiro água, água tanta que cobriu a superfície do cilindro de Veniza e destruiu quase toda a cidade, deixando intactas apenas algumas formações externas. A água passou parou de cair e passou a sair do pico da própria colina, transformando Veniza em uma cascata permanente. Outras coisas começaram a sair do olho de Demiurgo, como passou a ser chamado o buraco-portal: criaturas pequenas, grandes, enxames inteiros, e até construções; todas estas coisas caem sobre Veniza em momentos imprevisíveis.

A denominação de "Olho de Demiurgo" vem da crença de que Demiurgo foi aprisionado em um semi-plano adjacente a Geniov, mas com seu imenso poder abriu um portal por onde consegue enviar castigos para seus traidores. Alguns acreditam também que Demiurgo está adormecido, e que os objetos que saem do portal são pedaços de seus sonhos. De fato, apesar de contiguidade, não há qualquer comprovação da relação entre o banimento de Demiurgo e a abertura do portal, muito menos sobre a origem dos objetos que dali saem; estas coisas, também, devem ser consideradas lendas.

Depois disso, houve uma rebelião contra a autoridade de Letho Black, e muitos desceram de Veniza para ocupar outras áreas da superfície de Geniov e criar suas próprias Egrégoras. Foi o momento da grande segregação.

Por falta de gente e espaço, Veniza murchou. Evidenciou-se que o próprio Letho é um diabo, e muito provavelmente tinha esquematizado os ataques de seus iguais. Ainda assim, Letho Black é até hoje o líder supremo de Veniza, e chega a inclusive ceder espaços do território da cidade para que seus comparsas infernais vivam lado a lado com seres humanos. Até hoje um muitos questionam: "Como?". A resposta é muito simples: Stranda. Mesmo com o cessar dos ataques dos diabos, o Olho de Demiurgo ainda representa uma ameaça real aos habitantes de Veniza, e em proporções menores ao restante do planeta. Além disso, o interesse pela magia de Geniov muitas vezes é mais forte do que o ódio por Letho, o que mantém as pessoas em Veniza, apesar da existência de outros povoados mais seguros em Geniov. Foi criado um concelho multiplanar para supervisionar as atividades de Letho, mas aparentemente o poder de decisão deste concelho é muito pequeno.

As outras cidades cresceram e se declararam independentes. Ainda que façam contato entre si, evitam um grau muito grande de miscigenação com temor de enfraquecer as suas Egrégoras. As cidades independentes costumam manter relações amistosas umas com as outras, mas quase todas odeiam Veniza, que ainda assim continua sendo, de longe, o centro de poder de Geniov. Mais recentemente, a liga das cidades independentes selou magicamente as entradas para o Útero,com medo dos ataques de criaturas que poderiam vir de lá. Ainda existem muitas entradas abertas, para aqueles interessados em procurar.

Hoje, cada povo funciona de forma mais ou menos autônoma. A preocupação com as Egrégoras não é universal; passou a se reconhecer que os mistérios de Geniov se estendem para além disso. Todas as coisas que eu citei como lendas vão ter um dia sua real natureza reveladas. O padrão mais importante de todos os fenômenos mágicos únicos de Geniov é sua relação geométrica; nós da Sociedade Poligonal temos desenvolvido pesquisas científicas para desvendar os segredos destes padrões, e sem dúvida somos aqueles que mais têm produzido novos conhecimentos sobre o assunto. Nós não mantemos nossas descobertas em segredo; a Gazeta Neocívica de Geniov foi criada para a divulgação de todas as descobertas importantes feitas nessa área, para que cada pesquisador possa se beneficiar do progresso dos outros.

Uma última consideração sobre as Egrégoras

Aqueles que buscaram neste documento informações para criação prática de Egrégoras poderosas certamente estão decepcionados. Como eu mencionei, o processo de criação é relativamente simples, e você provavelmente não terá dificuldades em aprendê-lo em qualquer escola arcana de Veniza. Até onde sabemos, entretanto, não existem truques para a criação de Egrégoras poderosas. O poder da Egrégora é diretamente proporcional ao número de pessoas que oram por ela diariamente. Nenhuma característica particular do conceito-base usado na criação da Egrégora parece interferir com o seu poder, embora possa interferir com o uso que a criatura fará deste poder. Você pode criar Egrégoras para uso próprio e brincar com elas como quiser; pode criar uma Egrégora diferente toda semana, para os mais variados propósitos. Alguns acreditam que isso pode ser perigoso, pois hipoteticamente as Egrégoras retiram sua essência mágica de algum lugar ou coisa que está se enfraquecendo. Isso é lenda.

Se quer criar uma Egrégora de poder considerável, entretanto, o esforço demandado não será mágico, mas político; deverá convencer um número muito grande de pessoas (alguns milhares, para Egrégoras realmente interessantes) de que elas têm algo a ganhar ao orar por sua Egrégora. Nós da Sociedade Poligonal temos tentado juntar um número de pessoas interessadas em orar por nossas Egrégoras experimentais, mas mesmo diante desse nobre objetivo científico, o interesse das pessoas pouco se manifesta. Sinto-me na obrigação de precaver os ambiciosos contra uma provável perda de tempo e esforço em se engajar num empreendimento deste tipo.

Convite

Como membro antigo e atuante da Sociedade Poligonal, devo deixar em aberto o convite para que as pessoas conheçam nossas pesquisas, e se interessadas nos ajudem nos estudos das Egrégoras orando por nossas Egrégoras experimentais. Convidamos também pesquisadores arcanos a se juntar a um de nossos núcleos de estudo, ou pelo menos publicar na Gazeta suas pesquisas independentes. As edições da Gazeta são não-periódicas, e ainda que a intenção é que as publicações sejam sempre originais e com relatos de descobertas novas, ocasionalmente lançamos edições especiais com aprofundamento em eventos do nosso mundo.


Bem vindo a Geniov